quinta-feira, 18 de novembro de 2010

VALORIZAR O POLICIAL É SEGURANÇA PÚBLICA

Eis a única e certamente eficaz política ou estratégia contra a violência urbana em qualquer lugar do mundo: valorizar o policial. A frase que nos dá o título deste artigo é a síntese do sentimento de qualquer profissional. Sim, porque não vimos de Marte ou somos filhos de chocadeiras, como alguns (políticos) costumam nos ver. Somos seres humanos e temos uma profissão, a de ser policial.


E o que significa ser policial? É como se fôssemos um pouquinho super-heróis, pois lutamos todos os dias contra um inimigo, o criminoso. E nessa luta sabemos que não temos super-poderes e que nossas únicas armas são o destemor e a bravura, e, pior, estamos sós.

Não temos o apoio que gostaríamos de ter do Estado, a começar pelos salários, da legislação arcaica e engessadora e da própria sociedade que nos trata como servidores de quinta categoria, portanto estamos sozinhos no momento em que deixamos nosso lar e nossa família para entrarmos numa viatura ou numa delegacia policial.

O entendimento padrão de que basta uniformizar um homem com uma arma na sua cintura e colocá-lo numa esquina para transformá-lo em policial, levou ao caos que vivemos hoje em qualquer cidade brasileira, seja capital ou interior, com índices de violência cada vez mais assustadores. O pior dessa "política" é que esse mesmo homem, ao invés de policial, tem cada vez mais assumido o papel de bandido, ou seja, o próprio Estado tem produzido o maior dos delinqüentes.

Há mais de uma década, quando criei a frase acima, então presidente do Sindicato dos Delegados, venho tentando mostrar a alguns políticos que a única estratégia eficaz para a Segurança Pública é a valorização do policial, mas em vão.

A começar pela remuneração, os salários são os mais baixos possíveis nas polícias estaduais. A atenção a saúde, tanto física quanto mental, é inexistente. O acesso à cultura, à educação, ao esporte e ao lazer, zero. Políticas de recrutamento, seleção, formação, especialização e atualização profissionais completamente equivocadas. Tudo isso faz parte de um caldo que engorda as estatísticas de violência incentivadas por uma instituição cada vez mais enfraquecida perante o Estado e a sociedade.

Nem de longe conseguimos vislumbrar uma mudança de abordagem do assunto, e o que existe de positivo no Congresso sobre reforma policial é fruto de iniciativas de parlamentares oriundos das polícias, que carecem de apoio dos grandes partidos e do próprio Poder Executivo. Sequer o Poder Judiciário, que em suas milhares de varas criminais pelo país afora conhece de perto o trabalho da Polícia e onde estão suas deficiências, tem feito qualquer coisa para ajudar. O Ministério Público, que poderia propor ações judiciais contra o governo, em defesa da sociedade, já que é o guardião dos direitos civis, parece ter muito mais interesse numa polícia cada vez mais de pires na mão.

A imprensa se esbalda com os inúmeros e sucessivos erros e envolvimentos dos agentes da lei com o crime. A corrupção policial dá causa aos escândalos políticos, como se não bastassem os produzidos pelos próprios governos, alimenta manchetes e ajuda a vender jornais e aumentar os índices de audiência de programas jornalísticos. Mas e o debate? E o papel da mídia, que deveria discutir e propor soluções?

Estamos sós, como disse. Cada dia que amanhece é a certeza de que o presente será como ontem, assim como o amanhã, no momento em que fechamos os olhos para as verdades que estão cada vez mais nas nossas caras.

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