quinta-feira, 9 de junho de 2011

A crise dos bombeiros militares do RJ era apenas salarial?

Desde a saída do Corpo de Bombeiros Militar da estrutura da Secretaria de Estado de Segurança Pública, no governo de Anthony Garotinho, quando, juntamente com a Polícia Militar e a Polícia Civil, seu comandante-geral possuía apenas status de subsecretário de estado, os bombeiros militares ganharam uma Secretaria de Estado própria, a Secretaria de Estado de Defesa Civil, sendo o titular da pasta um coronel do Quadro de Combatentes e, ao mesmo tempo, acumulando o posto de comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar.


Há quatro anos, porém, o atual governador, em seu primeiro mandato, fundiu as secretarias de saúde e defesa civil e criou a Secretaria de Estado de Saúde e de Defesa Civil, entregando a titularidade da nova pasta a um civil, o médico Sérgio Côrtes, aliás, ex-bombeiro militar do Rio de Janeiro do Quadro de Saúde, ou bombeiro militar da reserva (pois não tenho informações se ele pediu demissão do posto ou se foi para a reserva – remunerada ou não) quando prestou concurso para o quadro de médicos do Ministério da Saúde.

Desconfortáveis por serem agora subordinados a um ex-oficial do Quadro de Saúde, que sequer chegara ao posto máximo da hierarquia militar, os oficiais bombeiros do Quadro de Combatentes, os únicos que por lei, quando no posto de coronel, podem assumir o comando-geral da tropa, viram os oficiais do Quadro de Saúde passar a ter destaque tanto nos corredores da SESDEC quanto nos do CBMERJ, a ponto de começar a surgir questionamentos do porque eles não poderem ocupar o posto de comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar.

A Saúde havia “tomado de assalto” a Defesa Civil e as principais ações da SESDEC estavam centralizadas nas UPAS, o programa-chefe na política da área do atual Governo, ou seja, o Quadro de Saúde do CBMERJ tinha ganho em relevância para a população fluminense, corroborando com o fato de antes detentores do status de secretário de estado, os coronéis combatentes teriam que se conformar com o rebaixamento a subsecretário.

Essa insatisfação dos oficiais combatentes em serem subordinados a SESDEC veio a público quando o recém empossado novo comandante-geral do CBMERJ bradou que ele era o “único” canal de negociação entre os bombeiros e o Governo do Estado, omitindo a figura do secretário de estado, ficando ainda mais evidente quando o Governo do Estado, agora, recria a pasta da Defesa Civil e entrega a sua titularidade a um coronel combatente do CBMERJ, que será também a figura do seu comandante-geral.

Resolvida essa importantíssima questão para a carreira dos oficiais combatentes do CBMERJ, o fim a crise dos bombeiros presos é agora uma questão de tempo, e o apoio evidente que tiveram em seus quartéis (comandados pelos combatentes) para fazerem paralisações e protestos chega ao fim, até porque, maquiavelicamente, bombeiros militares, policiais militares e civis e agentes penitenciários estão atrelados entre si numa única política remuneratória, onde o que for dado para uma categoria tem que ser dado às demais, como acabou de acontecer, enterrando qualquer pretensão de se continuar o movimento, a menos que todos se unissem definitivamente, o que jamais acontecerá.

Esta minha leitura também está sendo feita no Quartel Central da PMERJ pelos seus oficiais combatentes, cujo comandante-geral possui o status de subsecretário, tal como o Chefe da Polícia Civil, em razão dessas duas Instituições serem subordinadas a atual Secretaria de Estado de Segurança (SESEG), cujo titular, ainda por cima, é um delegado de polícia – mesmo que federal – o que torna plausível a ambos reivindicarem a re-criação das Secretarias de Estado de Polícia Militar e de Estado de Polícia Civil, extintas no mandato de Marcello Alencar.

Imaginem se esse caldeirão ferver? Bem, para quem já leu meus artigos neste blog, sabem que é o que defendo, mas não por capricho corporativista (palavra que me causa náuseas), mas por uma questão estratégica de se termos Instituições de Estado, fortes e independentes, e não atreladas a políticas formuladas ao sabor dos transitórios Governos.

Se eu fosse assessor do Governador, nessa crise, já que eles não queriam permanecer na SESDEC, defenderia a realocação do Corpo de Bombeiros Militar na SESEG, como subsecretaria, a exemplo da PMERJ e da PCERJ, sem correr o risco de acender uma nova fogueira.

Um comentário:

  1. Querido amigo,suas colocações são sempre muito claras,muito lúcidas,e de quem realmente tem conhecimento de causa.
    Não sei se entendi bem,na minha humilde interpretação de mera expectadora...
    Vc considera que, todo esse movimento,que levanta a bandeira da justa causa do descontentamento salarial,foi insulflado com o objetivo maior de reconquista de espaço e posição dos oficias ?Será que depois de se permitir que os ânimos fossem tão inflamados,que esperanças fossem adubadas nesses corações,esta atitude do governador irá conseguir jogar água nessa fervura e tudo voltará a ser como antes "no quartel de Abrantes"? Confesso que estou tremendamente confusa...Me ajude a digerir..Porque ficou intalado na garganta.
    Abraços apertados ,com a admiração e o respeito de sempre! InezLeite

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